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Mostrando postagens de junho, 2025

Calvície, a debochada

A resistência do homem e sua calvície é algo admirável. Ele luta até os últimos fios de cabelo, mesmo que não tenha quase nada... ainda penteia. A calvície leva fio a fio. Todos os dias, no espelho, ela debocha, tira um sarro: — Cabelo em pé? Não! Cabelo no chão! Bravamente, o homem se mantém firme em seu propósito. Todos sabem, veem e comentam (escondidamente). Chega o dia em que o homem supera seu âmago, raspa os remanescentes, se olha no espelho e procura a debochada: — Calma, meu senhor... embora não veja, a ti eu pertenço. Wellingtton Jorge Observações de um passageiro do seu cobrador de ônibus

Ônibus

Cheguei, passou. Dei sinal, nem vou. Tentei correr, mas era tarde. Espero, como sempre esperei. Quando era menino, me ensinaram que é preciso esperar o tempo das coisas. Até na Bíblia tem isso. Então, espero... Tenho esperado demais. Agora vou. Não era assim que eu queria — mas tem como ir neste que chegou. Cheguei, passou. Nem consegui chamar. Quando vi, já estava virando a esquina. Vou esperar novamente, como sempre faço — nem sei se faço porque quero, preciso, ou aprendi. E o que se aprende quando é menino se torna lei depois do tempo. Até penso que estou atrasado: quando chego, quase tudo já passou. Quando vou, já não importa mais. E quando tenho, não funciona mais! Tento recuperar o perdido, mas de longe vejo outros embarcando tranquilamente. Talvez seja assim: para mim, já passou. Para eles, tudo chegou. Wellingtton Jorge

Bicicleta

Vou ali, Assim, Rapidin,  Com Iracema -  a magrela  Wellingtton Jorge

Banho de Compaixão

Engana-se quem cobra de si perfeição. Humano se deleita na consistência mergulhada na compaixão, como banho de espumas — totalmente imerso em seu corpo, e suaves bolhas de sabão aromatizando o instante. Wellingtton Jorge 

Sofá

Não quero mais ficar aqui. Comecei a fazer as malas. Estou decidido — partirei assim como cheguei. Já coloquei todas as memórias e momentos na mala. Assustei quando percebi que terei que levar muitas. Sentei no sofá, te esperei chegar. Vi a bola, o travesseiro, a mesa e o pão. Sim! Tomei a decisão! Me escuta: não quero mais ficar aqui... Eu vou morar lá. E lá… eu nem sei onde é! Mas antes de ir, gostaria tanto de ouvir você mandando eu ficar , gritando alto, para que no sofá dos abraços eu pudesse voltar. Wellingtton Jorge