Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2025

Velha infância

No frio, há de brincar como criança. Esquentar as pernas no pega-pega, deixar aquecer a inocência na cantiga. Gritar, ser — apenas ser — e não pensar em como deveria existir. Velha infância, — Corra com eles para brincar. — Estou quase correndo para me esquentar. Como adulto, queremos permissão para avançar. — Lembre-se: criança não pede licença para brincar. Wellingtton Jorge

Quando a Vida desfila

 Um dia li Manoel de Barros: “Andando devagar eu atraso o final da Vida.” Que maravilhoso ler isso! O triste é que a Vida também o lê. E, sabendo disso, a brincalhona faz suas meninices: corre para alcançar alguns, mete a rasteira em outros, se esconde, atrasa o que não deveria atrasar, apressa o que não deveria existir. Essa menina é linda demais, e incontrolável — igual ao cavalo Spirit. Mandona e manhosa, tudo do jeito dela. Sabendo pegá-la, verá o quanto é leve. Há os que dizem que ela é pesada. Não afirmo, mas tenho minhas dúvidas. A vi em várias formas, igual a um desfile de carnaval: alegorias e fantasias diferentes passando na avenida, com o Tempo marcando. Seu pai é bravo, meticuloso e de poucas palavras. Enquanto a Vida brinca, ele acelera. Manoel de Barros tenta… mas, no final, é o pai quem organiza o fim. Wellingtton Jorge

Longe de Casa [minha menina]

Logo cedo, bem longe de casa, se despiu para o mundo e do mundo se vestiu. A cada pagamento, um pouco de si se esvaía. Para cada momento, um pouco do outro ficava. [minha menina] Na beira das estradas, ruas e becos, plantou presença. Se vende. Vejo medo em seu olhar. Vejo seu corpo lá, e seus olhos atentos pedem socorro! [minha menina] Ouvindo a canção, no disco antigo, a Esperança a escuta. Mesmo sem palavras, ouviu a dor em teus olhos. Na tarde de chuva, ela chorou. [minha menina] Wellingtton Jorge

Escancarar

O que me resta é o essencial. Foi tirado de mim o segundo passado. Não me presenteiam com o instante futuro. Não sou nada mais do que um pingo de inexistência na história do mundo. Se há um Deus, Ele não tem em suas mãos o nome de todos. Se não há Deus, tudo se explica. Buscamos pedras escritas, mantos enterrados numa cova, todo o saber. Tudo é um esquecido. Qual o sentido disso tudo? Por que há tantas coisas, seres, saberes, conheceres… e o que podemos conhecer, a não ser o que nunca conseguiremos compreender? Wellingtton Jorge