Minha sessão de Psicanálise
Não sei se realmente tenho sessões de análise ou encontros com meu próprio abismo. A facilidade com que falo de mim diante da psicanalista — inclusive de meus demônios — talvez venha do fato de saber que não serei julgado, excomungado ou exorcizado. No entanto, sempre me pergunto: será que, ao expor esses demônios, quero realmente que eles se vão? Nietzsche dizia que, quando olhamos para o abismo, ele também olha de volta. Talvez haja até prazer nesse diálogo silencioso, porque ao nos debruçarmos sobre ele encontramos semelhanças, reconhecemos igualdades e, assim, descobrimos que não somos tão únicos como pensamos. Há alívio em perceber que a dor que carregamos não é apenas nossa. Nas últimas sessões, a reflexão girou em torno da criança que ainda fundamenta o adulto que sou. Certa vez, compartilhei um sonho: eu, adulto, voltava no tempo e entrava na casa dos meus pais. Minha mãe me reconhecia, não como menino, mas como homem; ao mesmo tempo, a criança em mim sorria. Eu a tomava nos ...