Mãe, vou na casa da vó!
As lembranças podem ressurgir de uma forma inesperada e quando surgir embargar todos os tipos de sentimentos na garganta, pois as
lágrimas querem subir até os olhos e regar novamente as memórias que antes eram
momentos.
As bolachas ou biscoitos para alguns (não quero entrar no
mérito regional nesse momento), possuem o combustível exato para ressurgir as
lembranças. Explicarei a razão dessa comparação louca, mas fundamentada na mais
pura sabedoria brasileira.
Compartilhando do mesmo espaço de trabalho em um dos
clientes, foi me colocado uma simples e incrível pergunta, que por hora causou o
Big Bang em minhas emoções.
Um simples pacote de bolacha, foi me oferecido sem a devida
importância, veio-me a resposta que não desejaria comer, até o momento que olhei
fielmente na embalagem e paralisei. Disse que gostaria apenas de uma, peguei-a fechei
os olhos e dei a primeira mordida.
A Carol (moça que ofereceu a bendita bolacha) olhou-me e
constatou que de fato, tinha eu ficado doido. Depois de voltar no tempo com
aquela mordida, olhei-a e compartilhei o que aconteceu.
Narrei com tamanha sutileza e carinho, o que aquela bolacha
tivera feito em minhas memórias, fazendo revelar-se os cuidados de minha avó
quando a visitava no final da rua.
O ritual começa anunciando para minha amada mãe que iria na
casa da vó. Percorria menos de um quilômetro até gritar no portão e aparecer o
rosto com sulcos que a vida trás. Ouvia com um leve sotaque do povo lá de cima, “Oh negão, a
vó já vai” e isso me fazia tão bem. Entrar na casa de umas das mulheres mais
especiais do mundo.
Confesso meu pecado, gostava de ir até lá para tomar o café
que ela oferecia no copo, que outrora serviu de embalagem para o molho de tomate.
Não obstante, todos os utensílios de cozinha, tinham uma característica peculiar,
eram pintados por um esmalte vermelho na parte inferior, garantindo assim que ninguém
os pegassem.
Entrava, sentava-me de frente com o quadro que me chamava
atenção desde pequeno. Torcendo para que ela me oferecesse a bolacha, acompanhada
com o café. Passava o tempo enquanto tomava o café com minha avó, olhava
para ela e me lembrava de William Shakespeare, em sua obra O menestrel que em
ensinou “que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de
você muito depressa… por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com
palavras amorosas; pode ser a última vez que as vejamos.”
E com isso, percebia que mesmo não sabendo exatamente o que era a morte, em algum momento o tempo pararia de ser tempo para minha avó e, ela
partiria para o mundo das memórias, saudades e lágrimas.
Por essa razão eu olhava-a, abraçava e dizia que a amava. Mostrava-lhe
o quão importante era para mim, e no abraço eu sentia o cheiro que só as avós
possuem.
Logo após minha narrativa, vi um leve sorriso tomando conta do
rosto da Carol, foi quando eu lhe disse, que na vida devemos ter o cuidado de
estar com as pessoas, pois são delas que iremos ter as mais belas e doces
lembranças.
Passei o dia feliz por ter mordido aquela bolacha, pois
serviu de combustível para acender a chama da memoria e vulcanizar todas as
lembranças da dona Antonieta Alexandrina. Viva as bolachas, viva o melhor da
vida (o outro).
Wellingtton Jorge
Wellingtton Jorge
Parabéns pela rica homenagem a sua avó, certamente ela estaria mais orgulhosa ainda para lhe oferecer o café com bolachas...
ResponderExcluirSó que hoje ela diria: "oh negão... é a sua vez agora, quero uvir suas histórias, seus mais lindos versos e poemas..."!
"Uma vida é feita de momentos, que fazem momentos valerem por uma vida inteira"! S.C.B.
Grato pela leitura, lisonjeado com o comentário. Tudo é fruto de um café, logo escreveu sobre o café de ontem S.C.B
ExcluirO quadro na parede, os caladinhos, o cheiro da casa dela... São memórias únicas. Lindo primo 😢😍
ResponderExcluir*geladinhos
ExcluirAh que poema mais lindo...Nos remete à lembranças daqueles que se foram e nos deixaram uma marca enorme em nossa alma,ou com copo de café e uma bolacha,ou com uma música,e tudo que nos fazem lembrar dos tempos mais felizes da vida,quisera eu voltar no tempo e passar as tardes com meu saudoso pai ouvindo nossas músicas....Ah tempo bom...Parabens sua vozinha teria muito orgulho de ter um neto poeta...
ExcluirComentário lindo! Fico feliz que de alguma forma posso eu tocar as almas com meus textos. Grato por acompanhar os textos
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