Humano demasiado Humano


A vida é uma eterna professora e quem está disposto a aprender nunca irá se arrepender. Recentemente fiquei um período em silencio, para ouvir a voz da vida. Ouvi coisas que doeram, coisas tristes e verdades que mostraram minha fragilidade e humanidade.

Como todo processo e fase, isso chegou num momento que eu também precisei falar com a vida, e quando se fala com a vida o tempo sempre está presente. Foi aí que lembrei de um poema da Viviane Mosé, magnifica filosofa brasileira (nietzschiana).  

Vida/Tempo
“Quem tem olhos pra ver o tempo
Soprando sulcos na pele
Soprando sulcos na pele
Soprando sulcos?
O tempo andou riscando meu rosto
Com uma navalha fina
Sem raiva nem rancor.
O tempo riscou meu rosto com calma
Eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença.
Acho que a vida anda passando a mão em mim.
A vida anda passando a mão em mim.
Acho que a vida anda passando.
A vida anda passando.
Acho que a vida anda.
A vida anda em mim.
Acho que há vida em mim.
A vida em mim anda passando.
Acho que a vida anda passando a mão em mim.
E por falar em sexo
Quem anda me comendo é o tempo
Na verdade faz tempo
Mas eu escondia
Porque ele me pegava à força
E por trás.
Um dia resolvi encará-lo de frente
E disse: Tempo,
Se você tem que me comer
Que seja com o meu consentimento
E me olhando nos olhos
Acho que ganhei o tempo
De lá pra cá
Ele tem sido bom comigo
Dizem que ando até remoçando.”

É incrível como a vida em alguns momentos parece tão pesada, ruim e sem sentido. E em outros momentos a vida é toda completa de certezas e verdades. Há dias que o tempo nos rasga por inteiro e revela seu poderio, e não permite que voltemos para refazer os nossos erros.

Quando crianças, erramos tanto e não nos culpamos por tais comportamentos. Erramos ao tentar correr antes de aprender a andar. Caímos, nos machucamos e continuamos. Erramos quando queremos cantar e não sabemos pronunciar as palavras corretamente. Mas isso não nos impede de sorrir ao término de cada tentativa.

A vida passa e tudo que nela contém também passa. Compreendi que os erros, os medos, incertezas são alimentos para construção da minha força. Sem eles a vida não teria sentido, e o sentido que nos dá sentido, está presente quando o outro nos encontra nos instantes de vulnerabilidade e demonstram graça e compaixão.

Uso sempre essa frase “tudo que fazemos é com pessoas e para as pessoas”, gosto de ver a vida dessa maneira, não estamos só nesse mundo, e a vida se completa no outro. Quando erramos, erramos contra o outro, e quando ocorrem certos, são para para os outros também.

Compreender que somos humanos, é mais difícil do que se aparenta. Máquinas são criadas para fazer tudo de forma linear. Enquanto que nós, possuímos o DNA da diversidade e inovação, sempre tentamos fazer coisas diferente, e nisso os erros irão surgir.

Quando ele surgir, teremos que ser humildes para reconhecer e analisar o aprendizado. Nesse processo se ferimos alguém, temos que ter o cuidado de gerar todas as ferramentas para a cicatrização dessas emoções que ferimos. Humano demasiado humano (Nietzsche) é o que somos, e temos em nós a força para sempre superar, recomeçar e refazer tudo.

Wellingtton Jorge

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