Carro veloz (fast car)
Queremos a velocidade ao invés de uma brisa leve sobre o rosto. Com as janelas abertas avançamos os quilômetros num frenesi, numa loucura e ansiedade para chegar. Queremos o final, mostrar o que somos, levantar um troféu de melhor, o troféu do campeão.
Quantas vezes me pego a correr, a dizer a mim mesmo "vamos logo, você precisa avançar, outros já chegaram...", quantas vezes não permito o choro brincar de escorregador em meu rosto, pois não há tempo para sentimentos.
Perdemos a capacidade de olhar para a estrada e aproveitar o canteiro, fazer um piquenique no acostamento, sabe porque? precisamos chegar, precisamos mostrar que já estamos por lá.
Gostaria de entender quem inventou a chegada, gostaria de voltar nesse dia e desfazer essa tal "chegada". Passei algum tempo da minha vida nessa procura por chegar, passei algum tempo na minha vida desejando passar rapidamente pela estrada, até descobrir que nada importa, nada pode sucumbir o trajeto.
Queremos avançar o tempo, queremos acelerar os processos, queremos atalhos, imploramos pelo efêmero, não conseguimos nos satisfazer na pausa, estamos sempre na procura do "próximo", próximo estágio, próximo momento ... próxima vida.
Quando era criança me lembro da dificuldade de ganhar um brinquedo, mas a facilidade de ser feliz. Me lembro que o pouco era muito mais do que o suficiente, pois ainda tinha com quem dividir. Era o abraço ganhado da minha avó que justificava a minha estrada, as risadas longas em curtos minutos que paralisavam o tempo.
Por algum momento dessa vida eu esqueci que o melhor carro pra se andar é o carro lento, o que vai devagar. Deixei de lado meu carro veloz, e agora prossigo em outro ritmo, igual o de criança, vendo e sentindo tudo com a maior intensidade e menor velocidade. Quando acelerei a vida, vi passar coisas importantes que não voltam mais.
Wellingtton Jorge
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