Folhas novas, canetas novas

Quantas vezes ouvimos que devemos recomeçar? É de se pensar nas inúmeras situações que nos falta fôlego e por algum motivo encontramos força para não desistir.
Não quero falar aqui da capacidade que possuímos de seguir, mas se possível encontrar o espaço tempo entre o recomeçar e finalizar. 

A vida é muito parecida com uma folha em branco (é o que dizem por ai). Acredito que seja sim, porém ninguém diz que uma folha riscada é uma folha ocupada. Cada letra nessa folha é a construção de vários acontecimentos. Não temos a possibilidade de deletar palavras uma vez que foram transferidas para o papel.

E entre o espaço tempo de recomeçar,  dizem que devemos colocar um ponto final e virar a página. Percebo que quando escrevemos palavras com demasiada força no punho as letras marcam a próxima folha.  Agora pergunto, como escrever novas histórias se a vida já está marcada? Como seguir em linhas brancas se há traços a olho nu invisível, mas com um pouquinho de pó de grafite, como os períodos negros em nossa alma, o passado ganha cor novamente.

Quero pedir perdão á todos que um dia eu disse "coloque um ponto final e vire a página da sua vida". Hoje entendo que isso não é tão fácil como na prática cotidiana do escritor. Não é tão simples assim, colocar um ponto final e seguir, apagar as palavras, refazer, rasgar uma folha e joga-la fora.  Não temos essa borracha, não temos onde jogar o papel.

Com o tempo venho aprendendo que nada se cura ou se esquece, nada se põe ou tira das linhas da vida. Aprendo a escrever sem a preocupação de conter coesão e coerência, sem estética ou estrutura, palavras corretas ou erradas.

O tempo me ensina e não desejar o recomeço, não é possível recomeçar, não existe ponto final, não existem próximas linhas em branco que outrora já não foram marcadas. Deixo de me preocupar em ter as mais belas palavras que encantam a muitos, mas que na minha história não representam nada. 

Por vezes deixei de escrever novas páginas em minha vida por saber que naquela linha ainda tinham resquícios de sentimentos que por alguma maneira não se apagaram. Hoje não reaproveito folhas, não tento usar resto de tinta... sempre folhas novas, canetas novas.

Wellingtton Jorge



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